O complexo de percevejos (formado principalmente pelo Percevejo-marrom, Euschistus heros, e o Percevejo-verde, Nezara viridula) é, sem dúvida, um dos maiores desafios fitossanitários da soja no Brasil.
Diferente de lagartas, que causam desfolha, o percevejo ataca diretamente o produto final: a vagem e o grão. O resultado é a perda de produtividade e, talvez pior, a perda de qualidade, resultando em grãos "chocos", manchados e com menor teor de óleo, o que diminui o valor de venda.
1. Quando o Percevejo Ataca?
O ataque se intensifica a partir do estádio R3 ("ponto de canivete"), quando as primeiras vagens se formam. O período mais crítico, onde o dano é máximo, vai de R5 a R6 (pleno enchimento de grãos).
O percevejo insere seu estilete na vagem e suga os nutrientes do grão em formação. Essa "picada" não só drena o grão, mas também serve como porta de entrada para doenças fúngicas, como o complexo de podridão de grãos (Phomopsis).
2. O Pano de Batida: Seu Melhor Amigo
A aplicação "no escuro" ou em "calendário fixo" é a forma menos eficiente de controlar percevejos. A única maneira de tomar a decisão correta é através do monitoramento constante, usando a ferramenta clássica: o Pano de Batida.
O Manejo Integrado de Pragas (MIP) para percevejos é baseado em Nível de Ação (NA), ou seja, só aplicamos o inseticida quando a população atinge um número que justifique o custo da aplicação.
O Nível de Ação (NA) padrão, recomendado pela pesquisa (Embrapa), é de 2 percevejos (adultos ou ninfas grandes) por metro linear de pano de batida.
Para lavouras destinadas à produção de sementes, o nível é mais baixo: 1 percevejo por metro, pois o dano na qualidade é inaceitável.
3. Estratégias de Controle
Quando o Nível de Ação é atingido, o controle químico é necessário. A estratégia mais comum envolve:
- Ação de Choque (Rápida Derrubada): Usar inseticidas de contato (ex: organofosforados, piretroides) para derrubar a população de adultos rapidamente.
- Ação Residual (Controle Prolongado): Usar inseticidas sistêmicos (ex: neonicotinoides) que são absorvidos pela planta e controlam os percevejos que chegarem depois ou que não foram atingidos na aplicação.
A rotação de princípios ativos (não usar sempre o mesmo produto) é vital para evitar o desenvolvimento de resistência dos percevejos aos inseticidas.